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Indaiatuba está se tornando uma Ilha de Calor?

 Alguém já se perguntou qual a lógica desta diferença tão grande entre o volume e intensidade das chuvas em um mesmo município? E, por que parece que isso tem aumentado nos últimos anos?

 Para quem habita Indaiatuba há muito tempo, e se lembra de um agradável frescor rural que amenizava as temperaturas da cidade no verão, sobretudo ao fim do dia e à noite, que trazia uma brisa molhada vinda do mato, que destampava o nariz seco, em dias de inverno, deve se perguntar: _ o que aconteceu com nossa cidade?

 Nos últimos anos nosso perímetro urbano cresceu de maneira sensível, trocando áreas onde originalmente se possuía cobertura vegetal, por cimento, asfalto, pedra e tijolo. Aumentou a circulação de veículos motorizados, que dispersam gases poluentes na atmosfera, situação agravada pela distribuição modal de nosso transporte urbano, composto de mais de 54% de veículos particulares, onde a média ideal estimada seria 33%. As áreas ocupadas possuem tímida arborização entre os lotes, e as áreas verdes, obrigatórias em loteamentos, muitas vezes não se prestam a recompor a vegetação nativa em margens de rios e córregos, diminuindo nossa cobertura vegetal. Esse adensamento de áreas construídas e impermeabilizadas, criadas pelo homem em substituição à vegetação nativa, ou culturas agrícolas, tem criado em Indaiatuba um fenômeno climático chamado “ILHA DE CALOR”.

 As construções de nossa cidade e o asfalto das vias, possuem capacidade de reter energia, gerando calor, de maneira mais intensa que a cobertura vegetal original, e é capaz de manter esta temperatura por mais tempo, criando inércia térmica, proporcionando noites mais quentes. Enquanto a Zona Rural esfria rapidamente após o fim do dia, a Zona Urbana se mantém quente por mais tempo. Os dias na ‘cidade’ são mais quentes, e durante as noites, a diferença é muito maior.

 A Ilha de Calor cria uma área de baixa pressão, mais quente, de ar mais leve, que tende a subir e criar uma coluna ascendente sobre a cidade, por consequência retirando a umidade e deixando o ar mais seco que em áreas rurais, aumentando também a quantidade de partículas em suspensão, seja de poeira, água ou fuligem, vindas de combustível automotivo, atividade industrial, ou mesmo de queimadas ilegais. Como impactante decorrência, as ilhas de calor agravam a poluição atmosférica, diminuem a umidade relativa do ar, e aumentam a ocorrência de problemas respiratórios, sobretudo em crianças e idosos.

 Estas partículas em suspensão, de água, poeira ou fuligem, chamadas também de aerossóis, sobem com as correntes ascendentes e quando entram em contato com nuvens carregadas, criam gotas, que como bolas de neve na ribanceira, puxam a água das nuvens para baixo, e que acabam se precipitando sobre o perímetro urbano, criando um aumento da pluviosidade, se comparada às regiões rurais ou mais densamente arborizadas. Este fenômeno se intensifica no final das tardes, quando a diferença de temperatura entre cidade e campo se torna maior, chegando a uma diferença de até 10°C, criando as tempestades de fim de tarde, que curiosamente não incidem em áreas verdes com a mesma frequência e intensidade que na área urbana. O aumento da ilha de calor indaiatubana pode atrair chuvas desastrosas e desproporcionais à infraestrutura de drenagem urbana da cidade, sobretudo em nossa plana região central onde, em nome da modernidade, os paralelepípedos – com maior capacidade de drenagem – foram substituídos por coberturas asfálticas.

Uma das mais eficientes maneiras de se deter o aquecimento demasiado da cidade é proporcionar amplas áreas verdes, ou cravejar as áreas urbanizadas com árvores para diminuir a incidência solar e também aumentar a umidade através da evapotranspiração, jogando para a superfície a água retida no solo pela vegetação.

Arborizar a cidade adequadamente, e trabalhar a recomposição de áreas florestais nativas como condição sine qua non a expansão urbana, são atividades sustentáveis que podem reter ou até diminuir a ação do aquecimento urbano em Indaiatuba deixando a cidade tão agradável, quanto sempre foi em um passado próximo.

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https://historiadeindaiatuba.blogspot.com/2020/09/indaiatuba-esta-se-tornando-uma-ilha-de.html

Autores: Eliana Belo Silva e Charles Fernandes. Historiadora e Arquiteto Urbanista se juntaram para disponibilizar conteúdo sobre nossa cidade em matérias repletas de curiosidades e fatos interessantes que vão nos levar a conhecer Indaiatuba sob um olhar voltado a sua identidade, meio ambiente e história. 

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